Pra quem já estava com saudades dos posts musicais da Torre, vamos comentar um pouco da vida e obra desse grande mestre da música brasileira, Angenor de Oliveira, o Cartola.
Nascido em 11 de Outubro de 1908, na cidade do Rio do Janeiro, no bairro do Catete. Tinha oito anos quando sua família se mudou para Laranjeiras e 11 anos quando passou a viver no morro da Mangueira, de onde não mais se afastaria. Desde menino participava das festas de rua, tocando cavaquinho (instrumento que aprendera com o pai) no rancho Arrepiados (de Laranjeiras) e nos desfiles do Dia de Reis, em que suas irmãs saíam em grupos de “pastorinhas”.
Passando por diversas escolas, conseguiu terminar o curso primário, mas aos 15 anos, depois da morte da mãe, deixou a família e a escola, iniciando sua vida de boêmio..
Após trabalhar em várias tipografias, empregou-se como pedreiro, onde ganhou seu apelido de Cartola quando resolveu usar um chapéu coco para que o cimento não grudasse em seus cabelos. Seus colegas não resistiram a gozação e lhe deram o apelido.
Na década de 20, quando os blocos de carnaval resolveram se organizar em sociedades permanentes, Ismael Silva e o pessoal do Estácio criaram uma associação que se autodenominava Escola de Samba, a Deixa Falar. Cartola, então, juntou o pessoal da Mangueira, (entre outros, Saturnino Gonçalves, Marcelino José Claudino, Francisco Ribeiro e Pedro Caymmi) escolheu o nome Estação Primeira de Mangueira, adotou as cores verde e rosa e também criou sua escola. Nascia assim o maior fenômeno do carnaval carioca. Em seu primeiro desfile na Praça Onze, com o samba enredo de Cartola, Chega de Demanda, a Mangueira ganhava também o primeiro prêmio do carnaval.
Em 1931, Cartola tornou-se conhecido fora da Mangueira, quando Mário Reis, que subira o morro para comprar uma música, comprou dele os direitos de gravação do samba "Que Infeliz Sorte", que acabou sendo lançado por Francisco Alves, pois não se adaptava à voz de Mário Reis. Vendeu outros sambas a Francisco Alves, cedendo apenas os direitos sobre a vendagem de discos e conservando a autoria.
A partir da década seguinte, o sambista desapareceu do ambiente musical. Muitos pensavam até que tivesse morrido. Chegou-se a compor sambas em sua homenagem. Só foi redescoberto em 1956, quando o cronista Sérgio Porto o encontrou lavando carros em uma garagem de Ipanema e trabalhando à noite como vigia de edifícios. Sérgio levou-o para cantar na Rádio Mayrinck Veiga e, logo depois, Jota Efegê arranjou-lhe um emprego no jornal “Diário Carioca”.
A partir de 1961, já vivendo com Eusébia Silva do Nascimento, a Zica, com quem se casou mais tarde, sua casa tornou-se ponto de encontro de sambistas. Em 1964, resolveu abrir um restaurante, o Zicartola, na Rua da Carioca, que oferecia, além da boa cozinha administrada por Zica, a presença constante de alguns dos melhores representantes do samba de morro. Durou pouco essa confraternização morro-cidade: o restaurante fechou as portas, reabrindo em 1974 no bairro paulistano de Vila Formosa.
Contínuo do Ministério da Indústria e Comércio, vivendo na casa verde e rosa que construiu no morro da Mangueira, em terreno doado pelo então Estado da Guanabara, somente em 1974, alguns meses antes de completar 66 anos, o compositor gravou seu primeiro LP, "Cartola", na etiqueta Marcus Pereira. O disco recebeu vários prêmios. Logo depois, em 1976, veio o segundo LP, também intitulado Cartola, que continha uma de suas mais famosas criações, "As Rosas Não Falam", e o seu primeiro show individual, no Teatro da Galeria, no bairro do Catete, acompanhado pelo Conjunto Galo Preto. O show foi um sucesso de público e se estendeu por 4 meses.
Nesta época, descobriu que estava com câncer, doença que causaria sua morte, em 30 de novembro de 1980. Três dias antes de morrer, recebeu de Carlos Drummond de Andrade sua última homenagem em vida. O poeta lhe dedicou uma comovente crônica, publicada pelo Jornal do Brasil.
O corpo foi velado na quadra da Estação Primeira de Mangueira, onde por lá passaram as mais diversas presenças do mundo da música; Clara Nunes, Alcione, Emilio Santiago, Chico Buarque, João Nogueira, Dona Ivone Lara, Nelson Sargento, Jamelão, Roberto Ribeiro, Clementina de Jesus, Martinho da Vila, Gal Costa, Simone, Elizeth Cardoso, Paulo Cesar Pinheiro, Beth Carvalho, Paulinho da Viola, Gonzaguinha, entre muitos outros. Seu corpo foi sepultado no Cemitério do Caju. Dona Zica viu o corpo do seu grande amor pela última vez, abraçada com Clara Nunes, que era amiga e uma das "queridinhas" do poeta. Atendendo a seu pedido, no dia 1º de dezembro, data de seu funeral, Waldemiro, ritmista da Mangueira, que havia aprendido com ele a encourar seu instrumento, marcou o ritmo para o coro de "As Rosas Não Falam", cantada por uma pequena multidão de sambistas, amigos, políticos e intelectuais, presentes em sua despedida. Em seu caixão a bandeira do time do seu coração, o Fluminense.
"Gosto de fazer samba de dor de cotovelo, falando de mulher, de amor, de Deus, porque é isso que acho importante e acaba se tornando uma coisa importante" - CartolaFontes: Wikipédia, MPBNet, Cartola (site oficial)
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