segunda-feira, 21 de julho de 2014

Crônicas de Um Sujeito Normal - Parte 3

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Cap. 3

Descendo aqueles degraus tortos e gastos, rangendo mais que porta em filme de terror, começo finalmente a me dar conta da péssima ideia que foi investigar o alçapão encontrado onde antes era o Marco Zero.

- Não dá pra voltar agora - foi a frase que minha mente se agarrou na tentativa de me forçar a continuar. Envolto em uma escuridão total, confiando apenas no tato e na audição, tendo como som ambiente o barulho da escada e da minha própria respiração, sigo cada vez mais ao fundo daquilo que parece ser uma passagem secreta, ou o que sobrou dela.

Sem qualquer noção do tempo, até porque a adrenalina de estar em um lugar como aquele acaba fazendo cada segundo durar uma eternidade, chego finalmente ao final da escada e, ao me virar para encarar todo aquele desconhecido invisível, percebo com certa incredulidade que há uma luz no fim do que parece ser um túnel subterrâneo.

Sim, o clichê surge mais uma vez e a luz no fim do túnel parece ser tão óbvia que por um instante duvido do que meus olhos vêem. Uma luz, não branca, mas amarelada, como que produzida por uma vela, luta ferozmente para prevalecer ante a escuridão devastadora que ataca ao ver seu domínio ser desafiado.

Sigo aos tropeços pelo que parece ser um túnel escavado diretamente na terra, sem vigas ou qualquer escora capaz de garantir a mínima segurança daquela construção arcaica. A visão do ponto luminoso corta um pouco do pavor que havia se instalado e por um segundo acredito que possa estar seguro naquele local iluminado.

A caminhada se torna uma verdadeira procissão e aos poucos o minúsculo ponto de luz vai se tornando maior e mais abrangente, dando forma as paredes de pedras e ao chão de terra, facilitando o percurso em seus metros finais.

Alcanço o que parece ser uma sala, mas para meu espanto a luz que parecia prover de uma vela, mostra-se na verdade como uma pedra incandescente de forma triangular, encrustada no fundo da parede em frente ao túnel.

Nesse momento, uma infância regada a filmes do Indiana Jones atropelam meus pensamentos com um alerta constante - Não mexa em nada ou algo ruim vai acontecer! - e meio aturdido lembro que meu celular esta no meu bolso.

Uma sensação de incapacidade mental, ou burrice se não conseguir achar um eufemismo melhor me atinge com tudo. Passar por toda aquela escuridão sabendo que tinha um objeto capaz de gerar luz no meu bolso não ajudou muito a aliviar a tensão.

Pego meu celular e ligo a função de luz do flash da câmera para analisar com mais profundidade o local em que estou. Aquilo era definitivamente uma sala, de área um pouco maior que o túnel que a ligava a escada e por fim a saída. Mas uma sala vazia.

Direciono o flash ao encontro da pedra misteriosa e por um instante parece que ela mudou sua coloração para o mesmo branco da luz que vinha do meu celular. Meio aturdido encaro o fato como consequência do cansaço ou de um possível estado de choque. Entretanto minhas suspeitas de que algo estranho estava acontecendo ganham mais força ao notar que a luz do meu celular começa a ficar cada vez mais fraca. - Impossível, a bateria estava em 90%!

Em questão de segundos a luz do celular se foi, levando consigo a claridade projetada pela pedra na parede. Porém, antes que eu pudesse xingar Deus e o mundo por estar novamente na escuridão, um pequeno tremor tem início, abalando as estruturas do local e suspendendo meu momento revolta.

Totalmente em pânico, começo a correr, tateando precariamente tudo ao meu redor na tentativa de encontrar o túnel que me levará até a escada. Ao poucos encontro algo que parece ser o caminho de volta e, com o coração saindo pela boca, corro o mais rápido que posso sem enxergar um palmo na frente do nariz. Aliás, se fosse possível ver um palmo que seja, teria evitado bater a cara na parede em que se localizava a escada. Os degraus pareciam mais firmes do que antes mas, na pressa, esse detalhe foi inteiramente ignorado pelo minha atenção que já estava dividindo tarefas entre encontrar o caminho de volta e controlar a dor que vinha do meu rosto causado pelo tragicamente cômico choque na parede.

Durante a subida, começo a visualizar o céu já escuro do outro lado. Alcanço os últimos metros e finalmente estou do lado de fora respirando o ar puro da capital, ouvindo o som de gafanhotos e corujas que perambulam entre a vegetação que se alastra até onde a vista alcança... e nesse momento a função lógica do meu cérebro dá "tela azul"... espera ai...

- Onde eu estou?!?

(continua...)

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