quarta-feira, 9 de abril de 2014

Crônicas de Um Sujeito Normal - Parte 2

Obs: Se você perdeu a parte 1, segue link!


Cap. 2

(...)

- MEU DEUS! - é a única coisa que consigo gritar, com meu ouvido ainda zunindo, enquanto tento enxergar algo no meio de todo aquele caos de poeira e lixo que se levantou.

De repente meu coração para de bater por um instante e meu olhar se fixa na imagem a minha frente, arregalados de terror ante a cena que se apresenta.


A Catedral da Sé, um dos cinco maiores templos neogóticos do mundo, desmoronou como um castelo de cartas...


- Mas, mas, mas como!? - olho em volta a procura de alguém, qualquer pessoa que também tenha presenciado aquele desastre. Ninguém.

O silêncio palpável do local aumenta a tensão, quebrada apenas por uma ou outra pedra que desliza pelos escombros. Como primeiro impulso, penso em sair dali o mais rápido possível, mas algo me chama a atenção. Um vulto se movendo no local onde antes estava o Marco Zero. Forço a vista para tentar discernir alguma coisa mas antes de conseguir qualquer identificação, a "coisa" desaparece. 

- Não devia ter saído de casa hoje. - É o único pensamento racional que me vem a cabeça.

Sabe aqueles filmes de terror em que a mocinha está sozinha em casa e escuta um barulho vindo do quintal, e contrariando toda a lógica de autopreservação, sai no meio do escuro e vai verificar o que é? Pois é, eu sempre achei que essa era a atitude mais estúpida e clichê de todas, a burrice suprema dos personagens que geralmente são os primeiros a morrer na emboscada mais tosca da indústria cinematográfica. Sempre me imaginei nessa situação tomando atitudes mais inteligentes como trancar a casa toda e esperar amanhecer ou chamar os vizinhos, ou mesmo a polícia se a linha telefônica estivesse funcionando. 

Agora que realmente me encontro em uma situação familiar como a dos filmes, me deparo com um elemento não levado em consideração nas minhas teorias de ação: a curiosidade. Essa coisa, essa ideia, vontade ou seja lá o que for, essa energia que troca passos com o medo do desconhecido e a necessidade da descoberta, em uma valsa cheia de adrenalina é algo que está enraizado nos instintos mais primitivos do ser humano. 

E então percebo que preciso ir até o local onde a sombra desapareceu. Meus passos já fora do meu controle vão ganhando velocidade e a proximidade do local traz calafrios e algumas tremedeiras involuntárias.

Alguns escombros a frente, chego ao marco zero, ou o que sobrou dele. Nada. Simplesmente nenhuma pista do paradeiro da "coisa". 

Ali, parado no meio do caos, minha mente começa a tentar criar alguma linha de raciocínio capaz de explicar tudo que acontecera até aquele momento.

Já prestes a desistir e dar o fora daquele local devastado minha atenção é projetada a uma fina e quase invisível camada de terra sendo soprada pelo vento, subindo em direção ao céu. Subindo, subindo, subindo? Meu cérebro dá um choque. - Não, espera ae! Como assim!?

Volto a observar o chão e me aproximo o suficiente para sentir a corrente de ar passando entre os escombros. Me abaixo e começo a retirar parte das pedras e ali, bem onde estava a construção do marco zero, surge uma espécie de alçapão.

- Definitivamente, não devia ter saído de casa hoje. 

Com muita dificuldade consigo deixar o local limpo o bastante para possibilitar a abertura da tampa do alçapão. Levantá-la exigiu certa força da qual não estava preparado, mas após algumas tentativas, finalmente ela saiu do lugar, revelando uma escada, dessas simples utilizadas em construções, descendo rumo a escuridão sem fim.

Já mencionei sobre a curiosidade né? Então acho que não preciso explicar porquê comecei a descer...

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