terça-feira, 7 de janeiro de 2014

CRÔNICAS DE UM SUJEITO NORMAL - PARTE 1

Atenção povo frequentador dessa modesta Torre! Como já deu pra perceber, janeiro será um mês de "inaugurações" por aqui e o próximo post não poderia ser diferente! Há muito tempo tenho planejado contar uma história aqui, mas por falta de tempo/criatividade isso nunca saiu do plano das ideias. Pois bem pequeno gafanhoto, é com grande satisfação que dou o ponta pé inicial nessa aventura, que sinceramente, não sei onde vai dar!!

Cap. 1

São Paulo,
Janeiro de 2014.


De volta a rotina... Virada de ano, promessas, esperanças... apenas uma data. No dia seguinte tudo volta ao normal. Onde foi parar aquela vontade de mudar o mundo? Nasceu a zero hora e um minuto do primeiro dia de janeiro e morreu no minuto seguinte.

Eu continuo o mesmo. Mesmo apartamento pequeno, alugado, bagunçado, claustrofóbico para alguns, acolhedor para outros. Ao meu ver é simplesmente o canto, meu canto. Está ótimo.

Abro a geladeira e me deparo com um bilhete amarelo colado na porta:

Feliz Ano Novo!! 
Ass.: Eu, bêbado 
=)


A minha versão alcoolizada tem um senso de humor digamos, peculiar, sempre me rendendo situações constrangedoras nas manhãs seguintes. Digo isso porque esse não é o primeiro bilhete escrito por mim enquanto estou "alegre", não mesmo! Isso sempre acontece. Talvez seja um jeito que meu inconsciente descobriu para se vingar das besteiras que cometo quando não estou sóbrio.

- É, vamos torcer pra ser mesmo... - e o som da minha voz ecoa pela cozinha. Outro aspecto da minha personalidade... eu falo sozinho. Não por carência ou loucura, não é isso. Na verdade eu me considero um sujeito muito quieto, de poucas palavras, mas minha cabeça é uma eterna discussão, abrangendo os mais diversos assuntos. Pra você ter uma ideia, as vezes tenho longos debates comigo mesmo, alguns bem acalorados, valendo ofensas e "direito de resposta", tudo isso ocorrendo sem um único ruido exteriorizado. Quando estou sozinho acabo por dar um certa liberdade a minha mente faladeira e permito expressar minhas conversas individuais em alto e bom som.

- Bom, vamos ver o que 2014 tem de diferente. - coloco meu velho boné do AC/DC e saio. Andar sempre teve um efeito semelhante a horas de meditação. Sair por ai sem destino, dando voltas nos quarteirões e observando as pessoas acabou se tornando um relaxante mental do qual não abro mão. Pelo menos até aquela manhã.

São Paulo no início do ano é uma cidade vazia, toda correria estressante do resto do ano dá lugar a uma calmaria sem fim, do tipo que faz você se perguntar se está mesmo na capital. As pessoas fogem para o litoral, na tentativa de aproveitar as férias, seja com os amigos ou com a família e pra quem fica resta a recompensa de uma cidade difícil de se imaginar, tranquila como uma cidadezinha do interior.

Caminhando pelo centro, chego até a praça da Sé e percebo que até os já conhecidos mendigos doidinhos, domiciliados em seus bancos e árvores não estão mais lá. Devem ter ido à praia também. E enquanto divago sobre o paradeiro dos moradores de rua, eis que algo me chama a atenção.

Um reflexo vindo de uma das torres da catedral da Sé. Um pouco abaixo dos sinos, uma silhueta impossível de descrever pela distância, reflete um objeto metálico de maneira contínua. Típica brincadeira que toda criança já deve ter feito nas tediosas tardes de domingo, com um espelho na mão e um vão de luz na janela, na tentativa de conseguir alguma diversão. Isso até sua mãe tirar o espelho de você e te repreender por tentar deixar seu irmão vesgo, simplesmente porque jogou reflexo no seu rosto. Ah, a infância...

Alguns segundos depois o reflexo some. - Pelo jeito até os padres estão sem nada pra fazer... - já recomeçava minha caminhada quando um estrondo ensurdecedor, semelhante a um trovão que cai a poucos metros de distância, explodiu levantando uma nuvem de poeira no meio da praça.

- MEU DEUS! - foi a única coisa que gritei, com meu ouvido ainda zunindo, enquanto tentava enxergar algo no meio de todo aquele caos de poeira e lixo que se levantou.

De repente meu coração parou de bater por um instante e meu olhar se fixou na imagem em minha frente, arregalado de terror ante a cena que se apresentava.

A Catedral da Sé, um dos cinco maiores templos neogóticos do mundo, havia desmoronado como um castelo de cartas...

Continua...

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